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Degustação: "Desejos Ocultos"

  • Foto do escritor: Spartacus Editora
    Spartacus Editora
  • 20 de mai. de 2020
  • 8 min de leitura


Confira a degustação de um dos contos da antologia "Desejos Ocultos":


O relógio desperta às seis e meia da manhã e a vontade de ficar na cama é grande, pois parece que mal fechei os olhos e já tenho que me levantar. Passei boa parte da noite revisando minha apresentação, dessa conta depende, além de um grande cliente para a agência, a minha tão sonhada promoção.


Tomo um banho para acordar, mas como não quero me atrasar deixo meus cabelos secarem naturalmente, assim ganharão os cachos nas pontas. Já deixei tudo o que preciso arrumado em minha pasta, junto com a bolsa que acomoda meu notebook. Coloco a cafeteira para funcionar enquanto me maquio, nada muito ousado. Uso um corretivo para esconder as olheiras, rímel e delineador nos olhos e na boca a minha marca registrada, batom vermelho.


Coloco o café no copo térmico, vou bebendo enquanto desço de elevador os dez andares que me levará até a garagem. Acomodo minhas coisas no banco traseiro do meu carro e ligo o rádio, Thinking Out Loud começa a tocar.


Involuntariamente paraliso, meus olhos ficam marejados e as lembranças de Nicholas passam em minha mente como um filme. São tão intensas que acredito que se esticar meus braços, posso tocá-las com minhas mãos.


Faz um ano que ele se foi em busca de uma nova oportunidade de emprego e eu me recusei em acompanhá-lo, estava começando a crescer na agência e não quis trocar o certo pelo duvidoso. Ele me acusou de não o amar o suficiente por não querer ir, mas mal sabe, que apesar de tudo, ainda o amo.


Sacudo minha cabeça para espantar as lembranças.


Acorda, Andrea e mantenha seu foco.


Dou partida em meu carro, não posso me atrasar.


O tempo está se fechando e não demora muito para a chuva desabar, o trânsito piorar.


— Droga, desse jeito não chego nunca! — resmungo parada no trânsito, vasculhando minha bolsa em busca do meu celular.


Escuto buzinas insistentes e levanto minha cabeça para ver que os carros a minha frente avançaram e estou empacando ainda mais o fluxo. Imediatamente coloco meu carro em movimento para logo em seguida parar no farol que se fechou.


— Cris, o Marcelo já chegou? — consigo finalmente falar com minha assistente. Marcelo é meu chefe.


— Ainda não, ele ligou avisando que está preso no trânsito. — Relaxo um pouco e aviso que estou na mesma situação. — E o cliente? — pergunto preocupada.


— Idem, também está preso no trânsito, parece que a chuva pegou todo mundo desprevenido hoje, inclusive você — responde.


— Já estou perto, me faz um favor? Vai organizando a sala para a apresentação e pede para o restante da minha equipe já ir se aprontando. — O farol abre e antes que eu receba um buzinaço novamente, desligo e sigo em frente.


Assim que chego ao estacionamento da agência, avisto uma vaga próximo da entrada e dou graças a Deus. Antes mesmo que eu consiga pensar, um engraçadinho corta a minha frente e estaciona na vaga. Não conheço esse carro, por isso, todos os xingamentos que normalmente eu gritaria, são pronunciados em voz baixa e com o vidro fechado.


Manobro o meu carro e vou em busca de outra vaga. Meu humor agora está péssimo, quero matar o infeliz que fez com que eu me molhasse.


Entro correndo no prédio, a porta do elevador começa a se fechar e grito para quem está nele segurar a porta para mim.


Estanco quando vejo quem está dentro, mas ele não parece surpreso ao me ver.


— Vai entrar ou vai ficar aí parada me olhando com esses olhos lindos? — indaga Nicholas.


Horas parecem se passar até que eu consiga formular uma resposta.


— Vou de escada — falo virando em meus pés e seguindo para o final do saguão, mas não tão rápido, pois ainda escuto sua voz.


— Você é quem sabe! — Ouço a porta do elevador se fechando.


Subo dois andares, paro e me sento nas escadas.

O que ele está fazendo aqui?

Quando voltou?

Por que não me procurou?


Vários questionamento passam por minha cabeça que começa a ferver.


— Fui eu quem praticamente o abandonou. Não tenho que questionar nada! — resmungo para mim mesma e as lágrimas descem pelo meu rosto.


Se recomponha mulher! Você tem uma conta para ganhar!


Limpo as lágrimas, respiro fundo e termino de percorrer os três andares que me restam lentamente para que eu consiga deixar que todo esse sentimento deixe meu corpo e minha mente.


Assim passo pela porta de vidro da agência, Cris vem ao meu encontro.


— Já está quase tudo pronto na sala de apresentação, o cliente já chegou, só estou esperando o Marcelo chegar para reunir o restante da equipe.


— Ok. Vou até o banheiro retocar a maquiagem e já volto, vai levando minhas coisas para lá e sirva água e café para o cliente.

Cris sorriu.


— Com todo prazer, para aquele pedaço de homem sirvo o que ele quiser e se bobear me ofereço para ele também.


— Que saliência é essa mulher? — pergunto para ela já sorrindo também, se está dizendo isso, o homem deve ser bom mesmo.


— Espera para ver! — falou já saindo com minhas pastas em direção à sala.


Já recomposta, abro a porta da sala, ele está sentado de costas, analisando alguns layouts espalhados na mesa, mas assim que ouve o barulho dos meus saltos no assoalho, vira-se. Minha boca abre e fecha algumas vezes, mas não consigo articular nenhuma palavra.


— Surpresa?! — fala com aquele sorriso torto que eu costumava admirar.

Não sei se ele está afirmando ou questionando.


— O que você faz aqui? — eu sim, o questiono e seu olhar percorre todo o meu corpo e com uma calma irritante me responde.


— Trabalho, minha querida!


— Você é o cliente da rede de calçados? — Sei que não tenho o direito de me irritar, mas não consigo evitar e aproveito que estamos a sós.


— Com tanta agência por aí você tinha que procurar justo a que trabalho? Por quê? Quando você voltou? Você só pode estar querendo me torturar! — Essa última frase saiu já um tanto ríspida.


— Porque queria te ver e sei o quanto você é competente no que faz!


Sua resposta me desconcertou e ele rapidamente notou.


— Andrea, eu voltei para ficar, não aguentava mais ficar longe, quando pedi minha demissão alegando querer voltar para casa, me propuseram a publicidade das lojas daqui e eu aceitei, então aqui estou.


Não tive tempo de lhe responder, pois Marcelo entrou na sala seguido pela nossa equipe de trabalho.


Apesar do meu nervosismo, a apresentação ocorreu conforme eu havia planejado. Ganhamos a conta e minha promoção estava a um passo de acontecer.


Saí da sala de reuniões, me tranquei na minha, pedindo para Cris que só me chamasse ou passe alguma ligação se fosse do Marcelo.


Repassei em minha mente cada olhar que Nicholas me deu durante a apresentação, cada sorriso que vi enquanto discursava sobre as estratégias que tracei para a campanha.


Reconheci em seus olhos o desejo com que me olhava quando pensava que eu não estava vendo e o fogo que dele emanava, me queimava por inteiro, me fazendo sentir sensações há muito esquecidas.


Fechei meus olhos e deixei as lembranças tomarem conta de mim. Era quase que real, suas mãos percorrendo o meu corpo, seus beijos que começavam em meu queixo e desciam pelo meu pescoço, pelo meu colo, até chegar em meus seios. Minha pele queimava, meu ventre se contorcia e o desejo tomava conta de mim.


Fui desperta pelo toque do meu celular. Meu corpo ainda estava em chamas e com as mãos tremendo, busquei-o sobre a mesa. Havia uma mensagem.


Precisamos conversar.

Passo em seu apartamento às 20hs.

Não me diga não. Ainda te quero!

N.


Ainda te quero!


Era só isso que eu conseguia pensar, tudo dentro de mim se revirava, o dia demorou para terminar.


Assim que a campainha tocou, corri para abrir a porta e lá estava ele, Nicholas, em todo seu esplendor, a barba por fazer, como eu amava, o sorriso franco e sedutor, seu corpo ainda mais definido do que eu me lembrava, marcado pela camisa justa, em uma mão um buquê de rosas, na outra uma garrafa de vinho.


Sinceramente não sabia como me comportar, apenas acenei com a cabeça para que ele entrasse.


— Para você, se me lembro bem você ama as rosas! — falou sedutor.


— Vou colocá-las em um vaso, você sabe onde ficam as taças.


Enquanto se movimentava pela cozinha em busca das taças e do saca rolhas, foi logo falando:


— Andrea, vou ser direto com você. Como já te falei, não aguentava mais ficar longe de casa e quando digo isso, quero dizer você.


Fazia o trabalho com as flores e o vaso, o mais lentamente possível. Ouvi o barulho do líquido sendo derramado nas taças e o senti se aproximar das minhas costas. Me virei lentamente e peguei a taça que me ofereceu. Silenciosamente brindamos e tomamos um gole de nossas taças.


Repousou a sua na pia, pegou a minha e fez o mesmo. Olhando com aquele olhar que conhecia bem, aproximou-se ainda mais do meu corpo e eu já tremia por antecipação.


— Se me pedir para ficar, eu fico, mas se me disser para ir, eu vou sem olhar para trás. — falou tão próximo aos meus lábios que senti seu hálito quente e cheirando a vinho.


— Fica! — E sem pensar duas vezes puxei-o, atacando seus lábios convidativos.


A saudade era tanta que nem me importei com a forma desajeitada que o beijava, mas aos poucos ele foi ditando o ritmo, sua língua buscava a minha em uma dança sensual, lenta e deliciosa. Aos poucos foi cessando o beijo, ambos buscando pelo ar que parecia estar em suspenso por um longo tempo.


Com a testa colada à minha sussurrou:


— Dé, eu ainda te amo! Não aguentava mais ficar longe e resolvi voltar, me arrisquei, não sabia se você me aceitaria de volta, mas mesmo que não me aceitasse de primeira, eu iria passar o resto da minha vida tentando te ter de volta.


— Eu também te amo, mas fui orgulhosa demais para te pedir desculpas pelo que fiz!


— Deixa isso para lá, eu te desculpei antes mesmo de entrar naquele avião.


Nicholas me abraçou, afastou meus cabelos e começou a beijar o meu pescoço e o fogo logo se acendeu.


Inclinei minha cabeça, facilitando o seu trabalho. Enquanto beijava meu pescoço, minhas mãos percorreram seu tórax, suas costas. Puxei sua camisa para fora e percorri suas costas com minhas unhas. Um gemido estrangulado se fez em sua garganta, sabia o quanto ele amava isso, o quanto o excitava e logo os botões da minha camisa se foram e ele percorria meus seios com a língua, por cima do tecido do sutiã.


Suas mãos desceram por trás das minhas coxas e fui erguida facilmente. Percorremos o caminho até o quarto em um emaranhado de beijos, mãos e roupas sendo arrancadas.

Me deitou na cama e por um longo tempo admirou a minha nudez e eu, já em brasas só com o seu olhar, o chamei para mim com um movimento do meu dedo indicador.


Sentir suas mãos em meu corpo, seus beijos quentes e apaixonados foi a melhor coisa que me aconteceu nos últimos tempos.


Enquanto me beijava, testou minha intimidade com os dedos, tirou lentamente, movimentando-os para cima e para baixo, me deixando louca, a ponto de implorar.


— Amor, não aguento mais, preciso de você dentro de mim!


— Seu desejo é uma ordem. — Se posicionou sobre seu corpo.


— Nicholas, camisinha! — falei com a voz estrangulada pelo desejo.


— Dé, você vai acreditar em mim se eu disser que nesse tempo todo não saí com ninguém? — confessou ele.


— Eu também não. — declarei meio tímida.


— Então deixa isso para lá, aconteça o que acontecer, não te largo nunca mais.

E dizendo isso me penetrou, foi como se fosse a nossa primeira vez. Não demorou muito para que logo explodíssemos em um êxtase sem igual.


Deitada sobre seu peito, ouvia seu coração bater tão descompassado quanto o meu. Agora sim, minha vida estava completa.


Acariciando meus cabelos, ouvi seu suspiro de alívio e logo sua voz tranquila me falou:


— Agora sim, estou em casa!

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Equipe Spartacus.

 
 
 

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