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Degustação: "Herói"

  • Foto do escritor: Spartacus Editora
    Spartacus Editora
  • 16 de mar. de 2020
  • 24 min de leitura


Confira a degustação de "Herói", livro da autora P.C.L Vasconcellos:


Brayan

Parece um sonho quando o avião da Marinha finalmente pousa na pista do aeroporto. Eu achei que a qualquer momento ia acordar no meio do campo de refugiados, no Afeganistão, mas não é um sonho, eu voltei, estou em casa. Meu coração está batendo tão forte que chega a doer.

A rampa de desembarque desce e de onde estou, aguardando para desembarcar, posso ver meus pais e a minha irmã atrás do cercado de contenção da pista. Desembarco com outros fuzileiros que retornam junto comigo. Durante essa viagem, que parecia não acabar nunca, eu pude ver que mesmo que meu tempo lá tenha sido como viver no inferno, eu tive sorte. Se é que isso pode ser dito. Mas voltei inteiro, pelo menos de corpo. Muitos soldados que estavam nesse voo não tiveram a mesma sorte, deixaram partes de si para trás. Se eu pudesse escolher, preferiria ter deixado um braço ou uma perna, mas ter trazido a minha alma comigo. No entanto, acho que as deles também ficaram por lá.

Eu me despeço brevemente de todos e vou encontrar a minha família. Há exatos três longos anos que não os vejo. Minha família sempre foi tudo para mim. E se algo me maltratava a cada dia desses anos, era a possibilidade de morrer sem revê-los. De não ter a chance de abraçá-los novamente. Mas, finalmente, estou aqui, diante deles, e a emoção que sinto nem de longe eu poderia prever.

— Filho!!!

Minha mãe corre para mim e eu a abraço com todo o meu ser. Meu pai e minha irmã se juntam a nós no abraço. É impossível conter as lágrimas. Ficamos ali um tempo, chorando e sentindo o calor uns dos outros. Quando enfim consigo respirar e parar de chorar, eu abraço cada um e olho bem para eles. Meus pais estão mais velhos, não tinham tantos cabelos brancos quando parti. Minha irmã já é uma linda mulher, só agora tive a percepção de quanto tempo da vida deles perdi.

— Nossa, que gatão você virou, hein?! Cadê aquele magricela que saiu daqui há três anos? — diz a minha irmã com um lindo sorriso.

— Aquele não teria durado muito onde eu estava, maninha — digo, abraçando-a ainda mais forte.

Como é bom estar de volta.

Meu pai havia estacionado em frente à saída da Base Aérea, então entramos todos no carro e seguimos para casa. Eu observo o caminho em silêncio, sem reconhecer algumas construções, muita coisa mudou desde que parti.

Nossa casa no bairro de Laranjeiras, no município do Rio de Janeiro, não mudou muito – uma construção antiga em uma rua arborizada –, quando estacionamos, eu desço e ajudo a minha mãe a sair do carro. Alguns vizinhos nos observavam das janelas e assim que olho para eles, recebo um aceno em resposta. Sorrio cordialmente, mas entro em seguida – nunca gostei de ser o centro das atenções. Já fui bastante exposto quando tive que ir ao Ministério das Forças Armadas em Brasília para receber inúmeras medalhas. Algo extremamente desconfortável e dispensável. Eu trocaria cada uma delas pelas vidas dos vários amigos que perdi. Antes de voltar para casa, fiquei em Brasília por uma semana fazendo vários exames. Eu estou bem, mas os médicos disseram que é rotina para todos os soldados que retornam. Mas agora estou em casa. E isso é tudo o que importa.

— Mãe, estou exausto. Importa-se se eu for para o meu quarto agora?

— Claro que não, filho. Você agora está em casa, querido, faça o que quiser. Está bem? Seu quarto continua sendo o mesmo. Descanse um pouco e quando o almoço estiver pronto, eu o chamo.

Eu a abraço e beijo a sua testa antes de subir para o quarto. É incrível como tudo está exatamente como deixei. Estou exausto, então retiro as minhas roupas e me jogo na cama, pois dormir é tudo o que necessito agora.


Meg

Hoje acordei tão cedo, que acho que só o meu corpo saiu da cama. Nossa, como odeio acordar cedo. Só tem uma coisa que me irrita ainda mais – acordar cedo e ficar plantada esperando a Carolina e a Dayane para terminar esse bendito trabalho, que já era para estar pronto.

Estou quase quarenta minutos na entrada da biblioteca, no campus da faculdade, esperando essas duas. “Ô, raça! Vou te contar!!!”

— Oiii! — gritam as duas retardadas rindo da minha cara emburrada.

— Sabem quanto tempo de sono eu perdi aqui esperando vocês? Pô, sacanagem isso. Se não iam chegar no horário, poderiam ter me avisado, né? Mas não, vamos deixar a calhorda lá esperando. Ela adora isso, não é mesmo? Não foi isso que vocês pensaram? — digo com a cara mais brava que consigo fazer. Elas continuam rindo, e vêm me abraçar e me beijar.

— Desculpa, amiga. Não foi de propósito! A Dayane nos fez o favor de perder o livro da biblioteca — Carolina diz, socando o ombro da Day.

Eu só rolo os olhos e sigo para dentro da biblioteca com as duas me seguindo, e ainda discutindo. É o que elas fazem o tempo todo, só que hoje não estou com paciência para elas.

Procuramos uma mesa vazia e nos sentamos. Agora que estão em silêncio, eu decido tomar pé da situação.

— Então, Day? Onde você enfiou a porcaria do livro?

— Eu jurava que tinha colocado na mochila, mas hoje, quando olhei, vi que não estava. Não faço ideia de onde possa estar — ela me diz com cara de inocente.

— Nós reviramos o quarto dela e não está lá — Carolina diz, colocando a mão no ombro da Day para confortá-la.

— Tudo bem. Vamos ter que pegar outro, porque a maior parte do trabalho é daquele livro.

— Então vai lá, Meg, porque eu e Day já esgotamos a nossa cota.

— Eu sabia que ia sobrar pra mim. Eu vou pegar, mas nem vem que não vou deixar com vocês. Sabem que vão ter que pagar esse que sumiu, né? — digo, com os braços cruzados e olhando para elas. Hoje o meu mau humor está em nível altíssimo, nem eu estou me aguentando.

Antes de elas responderem, eu me viro, vou até a recepção e encontro a dona Alma me olhando com cara de poucos amigos. “Ô, mulherzinha.”

Hoje não estou boa, mas coloco um lindo sorriso no rosto e falo com ela.

— Bom dia, dona Alma. Eu preciso pegar um livro, pode acrescentar na minha ficha. Ela me olha como se eu estivesse pedindo para ela parir um filho. Aff.

— E qual livro você vai pegar? Sabe que não devolveu nenhum dos que já pegou, não é?

Ah, meu Deus, ela está pedindo!! Senhor.

Respiro fundo antes de responder a ela.

— É, dona Alma, eu sei. Ainda estou usando, mas pode ter certeza que quando terminar, eu os tratei de volta.

Ela levanta uma sobrancelha e fica me olhando.

Mas, “será o Benedito?” Ela acha que os livros são dela! Ela pega a minha ficha e anota algo lá, em seguida olha para mim e levanta a sobrancelha de novo. Putz, acho que ela está querendo ficar sem ela. Eu encaro o olhar dela e ela tira os óculos.

— Qual... o... livro?

Eu juro que vou mandar essa velha para...

— Motores e engrenagens avançadas, dona Alma. Por favor — diz a Carolina assim que para ao meu lado, bem a tempo de me salvar de passar um tempo na detenção.

Ela põe os óculos de novo e volta a anotar algo na ficha, sequer levanta os olhos, apenas faz um sinal para sairmos da frente dela. Mulherzinha insuportável! Juro que antes de terminar esse curso, eu voo no pescoço dela.

— Ei, o que te deu hoje, hein? Foi impressão minha ou você ia xingar a dona Alma? — Carolina pergunta enquanto caminhamos em direção às estantes.

— Essa velha... mal-amada me tirou do sério. Eu tenho crédito para pegar uns dez livros, e ela fica de graça com a minha cara. Ah, dá licença. Eu, hein!

— Cara, esse mau humor todo é só porque acordou cedo? Cruz credo! — Carolina faz o sinal da cruz e ri da minha cara, eu acabo rindo também.

— Ah, sei lá! Devo estar na tpm.

— Sei!! Isso é falta e você sabe de que, né? — Carolina cochicha no meu ouvido, dando risadinhas.

— Você sabe muito bem que... que...

— Eu sei muito bem o quê? — Carolina me olha sem entender o que me havia feito perder a voz.

É uma visão... uma visão inacreditável. De onde havia surgido aquele homem???

O ar dos meus pulmões simplesmente desaparece e Carolina continua a falar de frente para mim, mas eu não a ouço. Meu foco está naquele homem lindo que procura algum livro algumas estantes atrás dela. Quando Carolina percebe que eu não estou sequer respirando, ela segue o meu olhar e então entende.

— Sangue de Jesus!!! De onde saiu...

— Cala a boca!!! — consigo dizer antes que o deus grego acabe percebendo que estamos ali, secando-o. Eu me viro para a estante, mas já nem sei que livro estou procurando.

— Meu Deus, que demora é essa pra pegar esse livro!! — diz a Day parando ao meu lado. — Por que vocês estão demorando tanto?

Eu fecho os olhos e tento normalizar a respiração. Carolina cochicha algo no ouvido da Day, que disfarça e olha na direção do deus grego.

— Nossa!!! — É tudo que ela consegue dizer.

Ele é de tirar o fôlego! Alto, forte, cabelo castanho com mechas loiras, e o rosto... Deus, é o homem mais lindo que eu já havia visto. O semblante sério, mas ao mesmo tempo angelical. Não dá para ver os olhos, ele permanece observado os livros, alheio a tudo à sua volta. Eu arrasto as meninas dali antes que ele perceba a nossa presença. Voltamos para a nossa mesa e eu tento disfarçar, mas está difícil me concentrar em qualquer coisa. Nunca um homem me afetou desse jeito. Eu simplesmente não sei o que há comigo. Estou há mais de um ano sozinha – decidi me dedicar somente aos estudos –, e agora... Isso. Parece que o universo está decidido a me dar uma rasteira. O deus grego se senta a uma mesa bem em frente a nossa, onde já há um rapaz sentado. Carolina me cutuca assim que o vê e eu desvio o olhar, mas é como um ímã, eu simplesmente não consigo desviar. Eu tenho que olhar.

Não estou dizendo que o universo está de sacanagem!!

No momento em que eu olho em sua direção, ele olha para a minha e sorri. “Sangue de Jesus tem poder.”


Brayan

Acordo de uma noite tranquila, como há tempos não tinha. Sem sonhos ruins, nem pesadelos. Aliás, desde que voltei para a casa, não tive pesadelos. Depois de um banho revigorante, desço para tomar o café da manhã com a minha irmã Mariana. Essa minha irmã... que pessoa incrível ela é. No sábado, ela me disse que leu muito sobre os soldados que voltam depois de terem passado muito tempo em áreas de conflitos, e que sabia que eu ia precisar ocupar a minha cabeça para não acabar surtando. Ela arrumou uma entrevista de emprego para mim na fábrica onde trabalha, na manutenção dos motores das máquinas. Quando ela me disse que eu teria que ir com ela para falar com o seu patrão, eu não achei uma boa ideia. Não sei se estou pronto para interagir com outras pessoas. Mas ela insistiu tanto, que não tive como negar. Mariana sempre foi assim, muito persuasiva.

Tomamos café rapidamente e vamos no meu carro até o centro da cidade, onde fica a tal fábrica. Voltar a dirigir na cidade depois de tanto tempo é meio complicado, mas conseguimos chegar. Lá, um senhor muito educado me recebe e me parabeniza pelos serviços prestados ao país. Ele diz que, se eu quiser, posso começar no dia seguinte. Gosto realmente do lugar. Poderei trabalhar com motores, que é o que sempre gostei de fazer. Agradeço ao senhor Francisco pela oportunidade e ele me surpreende com uma proposta.

— Sua irmã me disse que você cursou dois semestres de Engenharia de motores.

— Sim, é verdade. Comecei quando ainda estava na Base da Marinha aqui, mas como tive que partir, não terminei — respondo sem entender o que ele quer dizer.

— A nossa empresa tem uma política de incentivo ao estudo e à formação dos nossos funcionários. Se interessar, posso o inscrever no programa, e você terá uma bolsa de cinquenta por cento para terminar o curso. E, no futuro, quem sabe, ser um dos nossos engenheiros.

Eu fico em choque e não consigo formular uma resposta. Se eu não me achava preparado para interagir com uma pessoa, imagine com um campus universitário inteiro. Minha expressão deve ter revelado a minha dúvida, porque o senhor Francisco percebe.

— Filho, se não quiser fazer isso agora, sem problemas. Você pode entrar no programa em outra oportunidade. Talvez precise de um tempo. Só cogitei a ideia porque, se fosse do seu interesse, poderia começar hoje mesmo. O semestre já iniciou, mas ainda dá tempo de se matricular.

Eu definitivamente acredito que não deveria estar cercado por tantas pessoas nesse momento, mas a possibilidade de terminar o meu curso me faz pensar no assunto. Se a ideia é ocupar o meu tempo e a minha cabeça, decido fazer um teste.

— Senhor Francisco, eu agradeço sinceramente pela oportunidade e vou aceitar a sua oferta. A princípio, em caráter experimental, porque não sei se estou pronto para tanta interação, mas gostaria de tentar.

O senhor Francisco me dá um grande sorriso, aperta a minha mão e me diz para ir com a Mariana até o departamento pessoal entregar os meus documentos. Fazemos isso e depois a senhora que nos atende me apresenta a um rapaz que também iniciará no dia seguinte e, para a minha surpresa, ele fará o mesmo curso que eu na faculdade.

A senhora nos entrega a documentação e pede para irmos à universidade fazer a matrícula e nos inteirar das matérias que teremos que recuperar. Eu me despeço de Mariana com um abraço bem apertado, pois, se não fosse por ela, talvez eu estivesse trancado no meu quarto sem nenhuma perspectiva para o futuro. Ela está tão feliz, que eu a vejo subir as escadas para o seu setor de trabalho dando pulinhos. Mariana é uma criança grande, sempre foi assim.

Eu e meu mais novo amigo, Bruno, vamos até a faculdade fazer a matrícula. Ter a companhia dele é de grande ajuda, porque eu não fazia ideia de como chegar lá. Bruno é muito falante e me conta toda a história da sua vida e as suas perspectivas para o futuro. Quando chegamos ao campus da universidade, eu me dou conta de que se eu disse duas palavras, foi muito, Bruno falou o trajeto inteiro e não me deu tempo de pensar em absolutamente nada. Esse pensamento me faz rir. Talvez, se ele não estivesse comigo, eu estaria muito apreensivo agora, mas não estou. Acho que ansioso é a palavra certa para o que estou sentindo.

Estaciono no lugar destinado aos alunos e seguimos para a recepção. Lá tudo é bem rápido, Bruno diz tudo que precisa ser dito, então não tenho com o que me preocupar. Apesar de conhecê-lo há pouquíssimo tempo, já gosto muito dele.

Saímos de lá com uma lista de matérias e trabalhos que já haviam sido dados, então seguimos até a biblioteca para pegar alguns livros para fazermos os trabalhos. Fazemos nossas fichas com uma senhora bem peculiar que parece bastante insatisfeita por ter que escrever os nomes de todos os livros que Bruno e eu precisamos. Ela nos indica com um gesto de mão onde devemos procurar os livros e eu arrasto o Bruno logo, pois ele parece estar a ponto de gargalhar na cara da senhora.

São inúmeras estantes dividas por matérias e temos uma lista bem grande de livros para procurar, então nos separamos para agilizar. Eu encontro com facilidade mais da metade da minha lista, ainda faltam dois, que não estão onde deveriam. Há duas moças no mesmo corredor que parecem não estar encontrando o que procuram, então fico ali por mais algum tempo, mas, por fim, desisto e elas também se vão sem livro algum.

Eu me junto ao Bruno, que está me esperando em uma das mesas espalhadas no salão de estudos, parecendo apreensivo com alguma coisa.

— O que houve?

— Cara, você está vendo a quantidade de matérias atrasadas pra estudar? E ainda têm os trabalhos. Tô completamente perdido.

— É só o primeiro momento. Daqui a pouco a gente pega o ritmo, fica tranquilo.

— É, você tem razão — diz ele olhando adiante e depois volta a olhar para mim com um ar divertido.

— Bom, de tédio não vamos morrer.

— O quê?

— As três gatas sentadas ali na frente são de fechar o comércio — diz ele em voz baixa e se inclinando em minha direção, como se quisesse falar algo mais.

— E a morena estonteante sentada ali não tirou os olhos de você desde que você se sentou aí.

— Deixa de história, Bruno, elas estão aqui para estudar, assim como nós.

— Eu estou vendo que ela está olhando para você neste exato momento.

— Cara, nós vamos estudar ou não? Você mesmo disse que tem muita coisa. — Tento fazer com que ele preste atenção em mim, mas é em vão.

— Você não vai sequer dar uma olhada? Ela é muito gata.

— Não, não vou olhar. É impressão sua.

— Cara, estou te falando, ela não tira os olhos de você. Olha agora, vai.

— Se eu olhar você vai parar com isso?

— Já parei.

Bruno não me dá outra alternativa. Eu não quero olhar para não deixá-la constrangida, eu já havia notado os olhares dela e queria ser discreto. Mas, pelo jeito, discrição não é o lema do meu amigo. Eu estou de frente para ela, só preciso levantar a cabeça. E é exatamente isso que faço, mas, quando nossos olhares se cruzaram, é como se o mundo ao nosso redor desaparecesse, não há som e nem ninguém à nossa volta. Só ela. Eu vejo seu rosto se encher de constrangimento, deixando-a ainda mais linda. Sem ao menos perceber, eu me vejo sorrindo para ela e sou presenteado com o sorriso mais lindo que eu já havia visto em toda a minha vida. Ela desvia o olhar e só então o mundo volta a girar.


Meg

Meu Deus! O que foi isso? O mundo parou de girar e eu estou completamente zonza. Meu coração está batendo tão forte que chega a doer. Ele sorriu para mim e como se fosse possível ficar ainda mais lindo, ele ficou. Meu rosto está tão quente, que acho que vou derreter, não consigo mais sustentar o olhar, então sorrio de volta e retorno a minha atenção para a Carolina e a Day, que ficam rindo da minha cara. Mui amiga essas duas. Ao invés de me ajudarem, me deixam ainda mais sem graça.

— Dá pra vocês duas pararem, pelo amor do senhor — eu cochicho quase sem voz, mas elas não param de rir.

— Ah, vai, Meg. Diz que não está doidinha pra encher aquela boca de beijos! Meu Deus do céu, eu vou surtar.

— Carolina, cala a boca!!!

— E que boca!!! — diz Dayane depois de olhar descaradamente para mesa em frente.

— Se vocês não pararem com isso agora, eu vou embora. O que deu em vocês, hein? Não estão vendo que estou ficando constrangida? Senhor!!!

Eu já estou irritada com as gracinhas das duas, e falar cochichando quando se está com raiva é meio complicado.

— Tá bom, tá bom — diz Carolina levantando as mãos, o que me deixa com vontade de apertar o pescoço dela.

— Mas ele é um gatinho, não é?

— É sim, Day, mas vamos terminar esse trabalho logo, pelo amor de Deus.

— Hei, tá bom, que nervosismo é esse?

— Day...

— Eu já disse pra ela que isso é falta... você sabe do quê.

Carolina continua rindo da minha cara, o que ela não sabe é que estou a ponto de arrancar cada fio loiro de cabelo da cabeça dela. Respiro fundo três vezes e tento parecer tranquila.

— Caramba. Se vocês não sossegarem, vão acabar expulsando a gente daqui. As pessoas estão querendo estudar.

— Ele sorriu pra você, Meg. Vai lá falar com ele. Se quiser, eu vou com você.

— Eu também.

— Vocês ficaram malucas? Eu vou lá falar o que pra ele? “Oi, tudo bem, desculpa atrapalhar os seus estudos, é que eu achei você um gato e estou doida para te dar uns beijos!?”

As duas me olham espantadas e acho que finalmente consegui fazer com que elas parem, mas não é bem assim.

— Amiga, o que você vai dizer, eu não sei, mas é bom pensar rápido, porque o amigo dele está vindo aí.

— O quê?

— Disfarça e faz cara de paisagem.

Eu nem tenho tempo de raciocinar, quando ela termina de falar, ele já está a um passo de nós.

— Oi! — diz ele sorrindo quando chega até nós.

Nós olhamos para ele, sorrimos e respondemos ao cumprimento, em seguida olho para o deus grego lá na mesa, mas ele parece alheio à atitude do amigo.

— Meu nome é Bruno. Desculpe-me interromper os estudos de vocês, mas eu e meu amigo ali somos novos aqui, na verdade, começamos hoje e estamos meio perdidos. Eu reparei que vocês estão com os mesmos livros que nós. São do curso de Engenharia?

— Sim, somos. Muito prazer, sou Carolina e essa é a minha amiga Meg, e Dayane, a minha irmã — Carolina nos apresenta com naturalidade.

Eu agradeço aos céus, porque ainda não me recuperei do susto.

Ele sorri e beija a mão de cada uma de nós.

— É um prazer conhecê-las. Estou atrapalhando vocês, não é?

— Imagina, claro que não. Do que vocês precisam? — Dayane diz, segurando a minha mão embaixo da mesa.

Algo na minha expressão deve estar mostrando como estou nervosa. O que não entendo é o porquê.

— Se não for incomodar, vocês poderiam nos ajudar com as matérias que perdemos? Só pra termos uma ideia de por onde começar.

— Claro, não é incomodo algum. Chama o seu amigo pra sentar aqui com a gente.

— Valeu. — Ele sai, vai até o amigo e fica algum tempo falando com ele.

— Carolina, quando sairmos daqui hoje, você será uma mulher morta.

— O que você queria que eu fizesse? Dissesse que não podia ajudar? E além do mais, a sua cara estava impagável e vou me lembrar disso para o resto da vida.

Cara, a Carolina tirou o dia para me atormentar, mas tudo bem. Vai ter volta. Ela não perde por esperar. Quando olho na direção do Bruno, vejo que ele está vindo acompanhado do amigo e meu coração começa a bater forte. Meu Deus, ele é ainda mais bonito de perto. Os olhos verdes são como duas esmeraldas, hipnotizantes, e o sorriso tímido que está em seu rosto faz o meu corpo inteiro suar. Jesus, não estou acreditando, como é possível? Eu tenho todos os sintomas! Não tem outra explicação, estou apaixonada por um cara que não sei nem o nome, mas esse detalhe está perto de desaparecer. Eu só preciso me lembrar de respirar.


Brayan

Desde de que a garota da mesa em frente sorriu para mim e nossos olhares se cruzaram, eu não ouço mais nada do que Bruno está falando. É algo sobre a quantidade de matérias e estar confuso, mas ele fala tanto que nem sei. Não entendo quando ele simplesmente se levanta e vai até a mesa das meninas. Não quero nem imaginar o que esse doido foi fazer.

Pego um dos livros sobre a mesa e começo a ler. Eu ouço quando ele as cumprimenta e elas fazem o mesmo, então sinto o olhar da morena sobre mim, mas dessa vez não olho de volta. Estou mortificado sem saber o que Bruno foi fazer na mesa delas, talvez ele tenha me dito e eu não ouvi. E quando estou pensando em várias técnicas de tortura conhecidas e desconhecidas para utilizar no Bruno, ele volta. A expressão em seu rosto me diz que ele aprontou alguma coisa.

— Resolvi o nosso problema. As meninas vão nos ajudar com as matérias que perdemos. Vem, vamos nos sentar lá com elas — Bruno diz enquanto junta o seu material.

Eu simplesmente não sei o que pensar. Será que devo ir ou não? Vou embora e deixo esse maluco sozinho? Essa ideia está ganhando força em minha cabeça, mas se eu fizer isso corro o risco de parecer grosseria da minha parte. Eu, que nem queria sair de casa hoje, estou abusando da minha capacidade de interagir, mas não tenho como escapar, então junto o meu material e o sigo até a mesa delas.

— Meninas, este é o meu amigo Brayan. Nós trabalhamos juntos e estamos começando hoje aqui. Essas são Carolina, Dayane e Meg.

— É um prazer conhecê-las.

— O prazer é nosso — diz a jovem loira de belos olhos azuis, que agora sei que se chama Carolina.

Eu me sento entre o Bruno e a Dayane – uma negra muito bonita de olhos castanhos e cabelos encaracolados. As duas sorriem e falam naturalmente, mas Meg parece apreensiva, tão incomodada quanto eu por estar ali. Ela não fala, só sorri quando olho para ela.

Passado um pouco do constrangimento, acabamos trocando algumas palavras e descubro que a voz dela é tão meiga quanto o seu rosto, e preciso me controlar bastante para não ficar parado olhando para ela. Toda vez que ela fala é como se uma suave música tocasse com uma melodia exclusiva para mim. Eu a imagino falando ao meu ouvido, dizendo o meu nome.

Céus, devo estar enlouquecendo. Eu mal a conheço e não posso estar fantasiando com uma garota que acabou de cruzar o meu caminho. Ela está me mostrando algo no livro que eu devo copiar, mas confesso que não faço ideia do que é, e está cada vez mais difícil disfarçar. Tentando manter o foco, consigo acompanhar e acabamos terminando o trabalho que terá que ser entregue na sexta-feira. As meninas sublinham a lápis nos livros as matérias que precisávamos estudar e o que é só para ler. Terminamos as tarefas quase meio-dia, então juntamos os materiais e nos encaminhamos para a saída, e eu me sinto triste por não ficar mais tão perto dela. Seguimos até o estacionamento e nos despedimos, combinando de nos vermos na aula, à noite. Carolina leva Meg e Dayane, e eu sigo ao lado de Bruno, que está estranhamente silencioso.

— O que você tem? Está quieto e você não para de falar um minuto. O que houve?

— Estou esperando!

— Esperando o quê?

— O agradecimento!

— E pelo o quê, eu deveria te agradecer, meu caro? Vamos lá, me esclareça.

— O quê? Eu pus você cara a cara com a gata morena, e não mereço um obrigado?

— O nome dela é Meg.

— Isso. Agora você sabe o nome dela, e graças a quem?

— Não por isso, eu já sabia o nome dela.

— Sabia? Sabia como?

— Eu só sabia. Devo ter ouvido uma das amigas dizer.

Bruno me olha com uma sobrancelha arqueada e isso me faz rir. Até esqueço as torturas a que ia submetê-lo em algum momento. Eu não quero admitir, mas graças à loucura dele, pude ficar tão próximo de Meg que podia até sentir o perfume dela.

— Mas, tudo bem, se é um agradecimento que você quer, ok. Obrigado, mas você não fez muito, ela quase não falou comigo.

— É claro, você quase não falou com ela. Na verdade, você quase não fala, não é?

Eu apenas rio da expressão indignada dele. Como se Bruno deixasse espaço para alguém falar. Mas ele tem razão, para algumas coisas sou um pouco tímido. Normalmente só num primeiro momento.

Deixo Bruno na casa dele e preciso usar o gps do celular para chegar à minha, ainda estou me habituando a dirigir pela cidade.

Quando chego em casa não encontro ninguém. Minha mãe deve ter saído há pouco tempo, pois deixou o almoço em cima do fogão. Como já estou com fome, almoço e subo para o quarto. Tomo um banho demorado para relaxar um pouco, depois me deito com os livros que preciso ler, mas em minha cabeça só tem lugar para ela. Eu fecho os olhos e vejo o sorriso dela. Nunca uma mulher teve um efeito tão forte em mim. Eu sei que ela sentiu o mesmo que eu, só não sei como vamos falar sobre isso.


Meg

— Meg, você vai se atrasar para a aula. O que está acontecendo? Desça logo, a Carolina não para de buzinar lá fora.

Aff!! “Será o Benedito?” O ser humano não pode terminar de se arrumar em paz?

— Já estou descendo, mãe. Mande a Carolina parar.

Se a Carolina soubesse que a vida dela está por um fio, ela nem cruzava o meu caminho. Ela está abusando. Estou nervosa só de pensar que vou ver o deus grego de novo. Brayan, que nome lindo, aliás, tudo nele é lindo.

Desço a escada correndo em direção à porta, mas a minha mãe me chama e eu paro.

— Ei, ei. Aonde você vai assim? Tem certeza que vai para a faculdade? — Ela me olha com a sobrancelha arqueada.

Acho que exagerei na produção.

— Vou, mãe, será que a pessoa não pode se arrumar um pouquinho mais de vez em quando? Eu, hein! Tchau, já tô atrasada — digo, saindo para encerrar o interrogatório.

— Tudo bem. Não volte tarde.

Ouço a minha mãe falar quando já estou do lado de fora. Nem respondo para ela achar que não ouvi. Vejam só, já sou maior de idade e a minha mãe tem mania de querer me controlar. Ela até tenta, mas não dou atenção. O meu pai não tem essas neuroses, ele confia nas minhas escolhas e me deixa livre.

Chego ao carro onde Carolina e Day me esperam e encontro as duas surpresas quando me veem. Acho que exagerei mesmo na produção.

— Ninguém me avisou que íamos a uma festa depois das aulas.

— Nem pra mim — diz a Carolina para a Day. No segundo seguinte, a Carolina abre um enorme sorriso. — Ah, já sei o porquê do capricho no figurino. Você sabe o nome do motivo, Day?

— Eu acho que é Brayan, não é? O deus grego.

As duas ficam rindo o caminho todo até a faculdade, mas eu prefiro me abster. Já estou muito nervosa para ficar me estressando com elas. E, na verdade, elas têm razão. Meu coração está aos pulos só de pensar em reencontrá-lo.

Chegamos ao estacionamento da faculdade bem em cima da hora da primeira aula. Quando saímos do carro, avistamos Bruno parado em frente à entrada principal do prédio da Engenharia e, para a minha decepção, ele está sozinho. Assim que o alcançamos, ele nos cumprimenta com beijos no rosto e sorri. Carolina é tão cara de pau, que vai logo perguntando pelo amigo dele.

— Nós não combinamos nada, porque moramos longe, mas ele deve estar vindo por aí. Espero que ele não se perca. Brayan passou um tempo fora do país e não conhece muito bem o caminho, então falei pra ele usar o gps. Não tenho nem o número dele pra ligar, nos conhecemos ontem e acabei esquecendo de pedir. E ele, como vocês devem ter reparado, não é de falar muito.

— Bem diferente de você, né? — diz Carolina e nós todos rimos.

Bruno é muito espirituoso, não se ofende com o comentário.

— Eu falo mesmo, principalmente quando estou com fome, e eu estou morrendo de fome. Eu me atrasei com algumas coisas em casa e não deu tempo de comer.

— Então vamos comprar alguma coisa pra você comer, o intervalo é só depois do quarto tempo — Carolina se prontifica.

— Vocês vão lá comigo?

— Vamos, meninas?

— Vão, vocês. Eu já vou subindo, para o caso de o professor chegar.

— Ok. Para o caso de o professor chegar, né? Tá bom! — diz Carolina, rindo e puxando Day e Bruno na direção das lanchonetes.

Eu subo as escadas que levam aos andares das salas de aula. Ainda há poucos alunos e nem sinal do professor. Sentando-me no lugar de costume, eu abro o livro que o professor Amilton irá utilizar nessa aula. Estou distraída com a leitura, quando meu coração dispara ao notar a presença dele assim que sinto o seu perfume, que está a centímetros de mim.

— Oi.

— Oi — consigo dizer, mas quase sem respirar.

Não sei explicar por que ele me afeta desse jeito. E quando ele sorri, meu Deus, meu coração só falta parar. E é exatamente o que ele está fazendo agora.

— Posso sentar aqui com você? — ele pergunta, debruçado no encosto da cadeira vazia ao meu lado. Eu estou guardando o lugar para a Day, que sempre se senta comigo, mas nesse momento eu sequer me lembro que ela existe. Eu tiro a minha mochila da cadeira, dando lugar para ele se sentar.

— Hã, é claro. Fique à vontade.

Ele se senta e coloca os livros em cima da mesa. Tento normalizar meus batimentos cardíacos, mas está realmente difícil. Ele olha para mim vez ou outra e sorri. Será que ele sabe que eu quase tenho uma síncope toda vez que ele faz isso?

— Suas amigas não vieram? — pergunta ele com os olhos fixos em mim, enquanto eu finjo não o ver.

— Sim, elas estão com Bruno, na lanchonete. Ele disse que estava com fome e convenceu as meninas a acompanhá-lo — digo, sorrindo e tentando disfarçar o nervosismo, mas ele não está colaborando, continua me olhando fixamente.

— E você? Por que não foi?

— Eu não gosto de entrar na sala depois que a aula começa. — Foi o que deu para responder. Ele abre um sorriso ainda maior e parece saber que estou mentindo.

— Você deve gostar mesmo dessa aula!

— Por que você acha isso? — pergunto um tanto confusa e a resposta dele me deixa completamente desconcertada.

— Porque você está incrível. Eu não acredito que você se arruma assim todos os dias para vir para a aula. Então, essa deve ser especial.

Eu acredito que o meu rosto, nesse momento, tenha tomado tons de vermelho inimagináveis na escala das cores. Se Bruno e as meninas não tivessem chegado fazendo a maior algazarra, eu teria morrido.

— E aí, cara, conseguiu chegar aqui sem se perder pela cidade?

— Consegui sim. Muito obrigado pela preocupação, Bruno.

— Disponha — diz Bruno piscando um olho para o amigo, que sorri em resposta.

Carolina e Day cumprimentam Brayan e ele responde. Elas se sentam à nossa frente, uma de cada lado do Bruno. Eles estão se dando muito bem, parece que se conhecem há anos.

A aula corre normalmente e o professor, para variar, nos pede outro trabalho. Ele realmente não tem noção de que temos outras matérias para estudar, sem falar nas pessoas que trabalham. É muita coisa. Mas o bom disso tudo é que, provavelmente, teremos que nos reunir novamente na biblioteca para fazer mais esse. Essa lembrança me faz sorrir.

Assistimos a cinco tempos de aulas e é mesmo muita matéria, quase não consigo olhar para o Brayan. Mas, disfarçadamente, eu olhei para ele sempre que conseguia, pelo menos achei que fui discreta, porém, toda vez ele sorria sem nem mesmo me olhar.

O sinal soa finalizando o último tempo de aula. Nós saímos da sala todos juntos e Bruno quer ir até a lanchonete, pois já está com fome novamente. Todos rimos da expressão dele quando diz isso, ele é um rapaz muito animado – só a cara dele já nos faz rir. Ao nos sentarmos a uma mesa na lateral da lanchonete que está lotada, eu observo os olhares das garotas para o Brayan. Ele parece incomodado e fica o tempo todo rodando o canudo dentro do suco. Isso me parece estranho. Que homem fica incomodado com muitas mulheres olhando para ele? Mas ele está visivelmente constrangido. Coitado. Fico aflita e quero socorrê-lo, mas o que posso fazer? Como mandar as mulheres pararem de olhar, se nem mesmo eu consigo fazer isso? Então me encho de coragem e resolvo iniciar uma conversa para ver se ele esquece um pouco os olhares.

— Brayan, o que achou da aula?

— Foi boa. Apesar de ter ficado três anos sem estudar, ainda me lembro de algumas coisas.

— Que bom. Assim você não tem muita dificuldade para se adaptar, não é?

— Eu espero que não. Bom, eu já vou indo, amanhã começo cedo no trabalho.

— Ah, fica mais um pouco aí, Brayan. É cedo ainda — reclama Bruno. Agora se dirigindo a nós, porque, até então, ele, a Carolina e a Day pareciam estar em um mundo paralelo.

Brayan se levanta e pega os seus livros.

— Eu preciso mesmo ir.

— Meninas, acho melhor irmos também — eu digo, porque já que Brayan vai embora, a noite perde toda a graça.

Bruno reclama mais um pouco, mas acaba concordando. Bryan e eu seguimos para o estacionamento e nos despedimos, e quando acho que a noite está perdida, ele segura a minha mão e beija o meu rosto.

— Obrigado. Até amanhã — ele diz no meu ouvido.

Eu só consigo balançar a cabeça em concordância. Ele se vira e vai para o carro, onde Bruno e as meninas estão se despedindo. Eles entram no carro e vão embora, então Carolina e Dayane vêm até mim.

— Tem alguém morrendo aí? — diz Carolina ao me abraçar de um lado e Day do outro.

— Ah, para! Ele só se despediu, como Bruno fez com vocês.

— Mas você o viu beijar mais alguém? — diz Day, sorrindo e me fazendo sorrir também.

— Não, não vi. Ai, meninas, estou completamente, perdidamente, irremediavelmente apaixonada por ele. E agora?! O que eu faço?!

— Dá um tempinho pra ele. Acho que Brayan é um pouco tímido, mas está na cara que ele também tá caidinho por você.

Carolina é uma boa psicóloga, eu sempre digo a ela que está no curso errado. Meu coração está aos pulos, há tempos não me sinto assim. Na verdade, nunca me senti assim e isso me assusta, eu mal o conheço, não sei nada sobre ele. Às vezes vejo uma nuvem de tristeza nos olhos dele, mas daí ele me olha e sorri, como se me olhar fosse tudo o que ele precisasse para ficar feliz. Céus, já estou delirando, preciso conter esse sentimento, tenho medo de acabar me machucando.


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Equipe Spartacus.

 
 
 

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